sábado, 20 de janeiro de 2007

Para a minha colega do lado esquerdo

Depois da conversa que tivémos Babe aqui vai uma idéia do Mário, temos que mostrar isto ao Janeco!

"Nada me encanta já, tudo me aborrece, me nauseia.
Os meus próprios raros entusiasmos, se me lembro deles, logo se me esvaem - pois, ao medi-los, encontro-os tão mesquinhos, tão de pacotilha...
Outrora, à noite, no meu leito antes de dormir, eu punha-me a divagar. E era feliz por momentos, entressonhando a glória, o amor, os êxtases…
Mas hoje já não sei com que sonhos me robustecer. Acastelei os maiores… eles próprios me fartaram: são sempre os mesmos – e é impossível achar outros… Depois não me saciam apenas as coisas que possuo – aborrecem-me também as que não tenho, porque, na vida como nos sonhos, são sempre os mesmos. De resto, se às vezes posso sofrer por não possuir certas coisas que ainda não conheço inteiramente, a verdade é que descendo-me melhor, logo averiguo isto: meu Deus, se as tivera, ainda maior seria a minha dor, o meu tédio…
De forma que gastar tempo é hoje o único fim da minha existência deserta. Se viajo, se escrevo – se vivo, numa palavra: é só consumir instantes. Mas dentro em pouco – já o pressinto – isto mesmo me saciará. E que fazer então?
Não sei… não sei…
Ah! Que amargura infinita”

Mário de Sá carneiro

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